Rio Guaíba não está para peixe, alertam pescadores
Ação predatória do homem, ocupação irregular das margens e poluição ambiental estão entre os motivos para o momento de agrura vivido por pescadores da Capital

Salomão Oliveira joga a rede, mas só pega miúdos lambaris
Foto:
Luiz Armando Vaz / Agencia RBS
Eduardo Rodrigues
No
silêncio das manhãs no Guaíba, não se ouvem gritos de pescadores
partindo água adentro. O único som é o barulho da marola que se choca
nos cascos de barcos velhos e enferrujados. De beleza exuberante, o
conjunto de ilhas que forma o Delta do Jacuí viveu a fartura da pesca em
décadas passadas, mas hoje o lago e seus afluentes não estão pra peixe.
Na Ilha da Pintada, por exemplo, a fila de barquinhos ancorados é a imagem de uma pintura congelada no tempo. Raros são os que se movem dali.
Poluição, atos predatórios...
Presidente da Colônia de Pescadores Z-5, Vilmar Coelho, 65 anos, é realista:
- Não sou estudioso, mas tenho vivência. Diminuiu a quantidade de peixes sim, não temos a metade do que tínhamos naquele tempo - afirmou, referindo-se aos anos dourados da atividade.
Entre os motivos para a seca pesqueira estão a poluição ambiental (por meio do lançamento de esgotos e dejetos industriais sem tratamento nos rios), a pesca excessiva e predatória e a extração ilegal de areia, que acarreta perda de margem - onde se formam criatórios naturais de peixes.
Não vale a pena sujar as redes
Pescador de nome bíblico, Salomão de Souza Oliveira, 72 anos, relembra que, na galeria de vilões pelo sumiço dos peixes, estão a estiagem (seca) prolongada, a instalação desordenada de marinas e o aumento do fluxo de embarcações e de motos aquáticas (jet ski).
- O barulho de um motor de barco passando a 60m de um ponto de desova compromete a produção de alevinos. A falta de chuva forte para movimentar a água e os peixes também prejudica - explica.
Cadê os jundiás, as traíras, os pintados?
Salomão é do tempo em que as redes voltavam abarrotadas de jundiás, traíras e pintados. Na quinta-feira, ele nos levou de barco até a Ilha Mauá.
- Há uns oito anos, a gente colocava quatro redes à tarde aqui neste ponto. De madrugada, quando voltávamos para pegá-las, havia 60kg de peixe. Todos os dias. Hoje, não vale a pena botar. Suja a rede e não se pega nada - compara o pescador.
Pesca do dourado continua proibida
Em 2002, um decreto estadual listou 28 espécies de peixes ameaçadas de extinção no Estado. Desde então, a pesca do dourado está proibida. Para o biólogo responsável pela área de Ictiologia (ramo da zoologia voltado para o estudo dos peixes) da Fundação Zoobotânica, Marco Azevedo, a falta de monitoramento no setor prejudica a análise aprofundada do tema.
- Não temos dados que comprovem esta redução. Existe apenas o senso comum, com base no conhecimento dos pescadores - pondera Marco.
O biólogo acrescenta à lista de causas para a redução a contaminação dos rios por metais pesados presentes em mineradoras de carvão e a introdução de espécies exóticas, que passam a competir com as nativas.
Trabalho? Só em terra firme
Em 1989, quando chegou na Pintada, Luiz Alberto Ribeiro, 49 anos, era só entusiasmo. A pesca era o ganha-pão da família (mora com a mulher e três filhos na Ilha da Pintada). Hoje, o dono de quatro barcos inutilizados pela ação do tempo - e pela falta de peixe, passa o dia consertando redes, tarrafas e espinhéis.
- Continuo vivendo da pesca, mas não lá dentro da água - relembra Luiz, tentando manter o bom humor.
A redução do estoque de peixes ocorre nas águas doces e salgadas em âmbito internacional. Aqui, a falta de dados e pesquisas oficiais sobre o tema, é amenizada pelo trabalho de professores e especialistas em peixes.
Especialista alerta para colapso
Coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática da Faculdade de Biociências da Puc, Nelson Ferreira Fontoura estuda o Guaíba. Ele aponta duas vertentes principais para o declínio: a redução da qualidade da água, em razão do desmatamento das cabeceiras, e a taxa de mortalidade dos peixes. Muitas espécies, que se reproduziam em banhados, não têm mais esse habitat por causa da utilização desses locais na agricultura para irrigação de lavouras.
- A sobrepesca (pesca em excesso) e com malhas não autorizadas, contribuiu para agravar o colapso - conclui Nelson.
Na Ilha da Pintada, por exemplo, a fila de barquinhos ancorados é a imagem de uma pintura congelada no tempo. Raros são os que se movem dali.
Poluição, atos predatórios...
Presidente da Colônia de Pescadores Z-5, Vilmar Coelho, 65 anos, é realista:
- Não sou estudioso, mas tenho vivência. Diminuiu a quantidade de peixes sim, não temos a metade do que tínhamos naquele tempo - afirmou, referindo-se aos anos dourados da atividade.
Entre os motivos para a seca pesqueira estão a poluição ambiental (por meio do lançamento de esgotos e dejetos industriais sem tratamento nos rios), a pesca excessiva e predatória e a extração ilegal de areia, que acarreta perda de margem - onde se formam criatórios naturais de peixes.
Não vale a pena sujar as redes
Pescador de nome bíblico, Salomão de Souza Oliveira, 72 anos, relembra que, na galeria de vilões pelo sumiço dos peixes, estão a estiagem (seca) prolongada, a instalação desordenada de marinas e o aumento do fluxo de embarcações e de motos aquáticas (jet ski).
- O barulho de um motor de barco passando a 60m de um ponto de desova compromete a produção de alevinos. A falta de chuva forte para movimentar a água e os peixes também prejudica - explica.
Cadê os jundiás, as traíras, os pintados?
Salomão é do tempo em que as redes voltavam abarrotadas de jundiás, traíras e pintados. Na quinta-feira, ele nos levou de barco até a Ilha Mauá.
- Há uns oito anos, a gente colocava quatro redes à tarde aqui neste ponto. De madrugada, quando voltávamos para pegá-las, havia 60kg de peixe. Todos os dias. Hoje, não vale a pena botar. Suja a rede e não se pega nada - compara o pescador.
Pesca do dourado continua proibida
Em 2002, um decreto estadual listou 28 espécies de peixes ameaçadas de extinção no Estado. Desde então, a pesca do dourado está proibida. Para o biólogo responsável pela área de Ictiologia (ramo da zoologia voltado para o estudo dos peixes) da Fundação Zoobotânica, Marco Azevedo, a falta de monitoramento no setor prejudica a análise aprofundada do tema.
- Não temos dados que comprovem esta redução. Existe apenas o senso comum, com base no conhecimento dos pescadores - pondera Marco.
O biólogo acrescenta à lista de causas para a redução a contaminação dos rios por metais pesados presentes em mineradoras de carvão e a introdução de espécies exóticas, que passam a competir com as nativas.
Trabalho? Só em terra firme
Em 1989, quando chegou na Pintada, Luiz Alberto Ribeiro, 49 anos, era só entusiasmo. A pesca era o ganha-pão da família (mora com a mulher e três filhos na Ilha da Pintada). Hoje, o dono de quatro barcos inutilizados pela ação do tempo - e pela falta de peixe, passa o dia consertando redes, tarrafas e espinhéis.
- Continuo vivendo da pesca, mas não lá dentro da água - relembra Luiz, tentando manter o bom humor.
A redução do estoque de peixes ocorre nas águas doces e salgadas em âmbito internacional. Aqui, a falta de dados e pesquisas oficiais sobre o tema, é amenizada pelo trabalho de professores e especialistas em peixes.
Especialista alerta para colapso
Coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática da Faculdade de Biociências da Puc, Nelson Ferreira Fontoura estuda o Guaíba. Ele aponta duas vertentes principais para o declínio: a redução da qualidade da água, em razão do desmatamento das cabeceiras, e a taxa de mortalidade dos peixes. Muitas espécies, que se reproduziam em banhados, não têm mais esse habitat por causa da utilização desses locais na agricultura para irrigação de lavouras.
- A sobrepesca (pesca em excesso) e com malhas não autorizadas, contribuiu para agravar o colapso - conclui Nelson.
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